Mais uma sobre Caetano
Olá, eu demoro a dar às caras, mas venho.
Em uma das viagens curtas que fazemos, ouvindo
musica, Tati perguntou: Desculpe a minha ignorância, mas quem é Gita Gogoya?
Eu, curiosa do mundo da música, surpreendi-me por não ter atentado para essa “personagem”
contida numa musica interpretada por uma das minhas Divas da MPB, respondi, não
sei, deve ser alguém ligada às artes.
Aquilo ficou martelando e, intrigada com a dúvida lá
fui à busca de informações.
Música - Reconvexo, composta por Caetano Veloso e
dada a Maria Bethânia para grava-la. Interpretação impecável, som capaz de
mexer com o mais pacato dos corpos.
Aqui mesmo, nesse espaço, em 2007, escrevi sobre outra
intrigante letra desse baiano que acompanhou a minha vida com varias letras e
canções.
Nas conversas, nos círculos onde se discute musica
é comum observar que entender Caetano é tarefa difícil. Talvez por isso haja os
que amam e os que odeiam. A verdade é que as palavras e os seus sentidos nos
levem a pensar mais.
Será que a exemplo de Cajuina ele sabia o real significado
de Gita gogoya no conjunto da sua obra?
Na minha pesquisa descobri a Folha Harmônica, nela,
na postagem do dia 18/02/2011, Brunner Macedo trás a possível intenção de associa-lo
ao conceito de profanação, ou talvez a simples exuberância de mais uma canção.
Filio-me
à sua pesquisa e trago aqui a explicação dada em seu espaço para que, se possa entender
um pouco mais a inspiração de Caetano.
Transcrevo
ipsis litteris:
Trata-se
da junção de Gita, da música “Gita” de Raul Seixas, e Gogóia da música “Fruta
Gogóia” do antológico álbum de Gal Costa “Fa-Tal: Gal A Todo Vapor”.
Esta
pesquisa não poderia parar por aí. O que significa Gita? O que significa
Gogóia? O que significa os dois nomes juntos?
Muitos
afirmam que a música “Gita” é satânica. Mas seu real significado aparentemente
nada tem a ver com Satanás. Para começar, já ouviu falar do Mahabarata? O
Mahabarata é o livro sagrado mais importante do hinduísmo e sua autoria é
atribuída a Krishna, forma materializada do divino. O Mahabarata é considerado
um manual de psicologia evolutiva do ser humano e, com seus 90 mil versos, é a
obra com o maior volume de textos da humanidade. Inserido no Mahabarata está o
“Bhagavad Gita” (“A Canção do Senhor”), o texto sagrado mais popular do hinduísmo.
No “Bhagavad Gita”, Krishna, expõe os pontos mais importantes do hinduísmo,
como no trecho: “Aquele cujo coração não se atém às impressões exteriores
encontra em si mesmo a felicidade; em união mística com Brahma através da Yoga,
desfruta perpétua bem-aventurança.”
Além
de realizar síntese filosófica do hinduísmo, Krishna discorre sobre sua
universilidade e plenitude. Em um dado momento cita: “Entre as estrelas sou
a lua… entre os animais selvagens sou o leão… dos peixes eu sou o tubarão…. de
todas as criações eu sou o início e também o fim e também o meio… das letras eu
sou a letra A… eu sou a morte que tudo devora e o gerador de todas as coisas
ainda por existir… sou o jogo de azar dos enganadores…”. Neste trecho fica
evidente a inspiração de Raul Seixas e Paulo Coelho para comporem sua Gita.
Gita é, portanto, um hino, um canto que, elevado à significância hindu, é um
canto sagrado.
Vamos
agora à Gogóia. Gal Costa abre seu ótimo show/álbum de 1971, “Fa-Tal: Gal A
Todo Vapor”, com a frase “Eu sou uma fruta gogóia, Eu sou uma moça”. Os
dicionários de português dizem que “gogóia” é o nome de uma espécie de melancia
de praia, mas esse provavelmente não é o que o cancioneiro popular quer
traduzir. Pela observância das autoafirmações da letra desta canção do folclore
baiano, é possível arriscar um significado para “gogóia” como algo exuberante,
levado, em personificação humana, para um caráter sexual, talvez.
Antes
de partir para as conclusões, note a semelhança das construções de “Gita”,
“Fruta Gogóia” e “Reconvexo’, perceba a abundancia da afirmação “eu sou”.GITA: “(…) Eu sou a luz das estrelas/ Eu sou a cor do luar/ Eu sou as coisas
da vida/ Eu sou o medo de amar/ Eu sou o medo do fraco/ A força da imaginação/
O blefe do jogador/ Eu sou!… Eu fui!… Eu vou!…/ Gita! Gita! Gita! Gita!
Gita!/Eu sou o seu sacrifício/ A placa de contra-mão/ O sangue no olhar do
vampiro/ E as juras da maldição/ Eu sou a vela que acende/ Eu sou a luz que se
apaga/ Eu sou a beira do abismo/ Eu sou o tudo e o nada (…)”
FRUTA GOGÒIA:
“Eu sou uma fruta gogoia/ Eu sou uma
moça/ Eu sou calunga de louça/ Eu sou uma jóia/ Eu sou a chuva que molha/ Que
refresca bem/ Eu sou o balanço do trem/ Carreira de Tróia/ Eu sou a tirana
bóia/ Eu sou o mar/ Samba que eu ensaiar/ Mestre não olha.”
RECONVEXO:
(…) Eu sou a chuva que lança a areia do
Saara/ Sobre os automóveis de Roma/ Eu sou a sereia que dança/ A destemida
Iara/ Água e folha da Amazônia/ Eu sou a sombra da voz da matriarca da Roma
Negra (…) Eu sou um preto norte-americano forte / Com um brinco de ouro na
orelha/ Eu sou a flor da primeira música/ A mais velha/ A mais nova espada e
seu corte/ Sou o cheiro dos livros desesperados/ Sou Gitá Gogóia/ Seu olho me
olha mas não me pode alcançar(…)”
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